A nossa velha infância

Existem datas especiais no calendário que nos fazem lembrar e presentear pessoas importantes na nossa vida. O comércio adora a Páscoa, o Dia das Mães, Dia dos Pais, Dia das Crianças, Natal e aniversários.
No dia 12 de outubro deste ano estava conversando com um amigo e comentei que não havia sido convidada a participar de uma festa para crianças pelo meu irmão de oito anos, a resposta foi imediata: Acho que porque tu cresceu um pouquinho. Não satisfeita, questionei sobre o fato de crescermos, deixarmos a infância. Ele respondeu que na idade adulta devemos trabalhar e nos estressamos, contudo, podemos sair à noite sem pedir permissão, viajar sozinhos, governar um país e mais uma lista de coisas “boas”.
Mesmo com tantos argumentos tentadores, continuo pensando que bom mesmo é ser criança. Existe fase melhor na vida que a infância? Eu trocaria as saídas à noite pelas muitas tardes brincando na rua, substituiria o trabalho, o salário e o estresse por oito horas de muita brincadeira, R$ 5,00 de mesada, muita risada sem hora marcada e pudor. Viajaria mais mil vezes com a família da minha amiga Ju e não governaria nada mais que uma bicicleta. Ainda, acharia que todos os homens são lindos e perfeitos como o Ken (esposo da Barbie), que cansaço é chegar na fase do Céu no jogo de elástico, que sorte é acertar as pedrinhas na casa certa na Amarelinha e só ficaria triste ao anoitecer com a mãe gritando no portão que está na hora do banho.
Foi uma época incrível e as amigas eram ainda mais. As irmãs mais velhas sempre rabugentas mandavam eu chispar da casa delas. Esforço em vão, sempre estava lá, dias ensolarados, chuvosos, gelados, com catapora ou sarampo. Brincávamos de tudo. Éramos atrizes de novelas mexicanas, passistas do Carnaval do Rio de Janeiro, colecionadoras de brindes do Kinder Ovo, Paquitas da Xuxa, professoras e tudo mais o que a imaginação permitisse.
Sempre é bom lembrar de momentos felizes, das brincadeiras simples e divertidas, dos jogos feitos com meia calça velha da mãe, com vassouras, bonecas, giz e pedrinhas. Os tombos com a minha Caloi Ceci vinho. Momentos saudosistas que também foram inspiração para o grande escritor Casimiro de Abreu em “Meus oito anos”: Oh! que saudades que tenho, da aurora da minha vida, da minha infância querida, que os anos não trazem mais.
Mas os dias de Xou da Xuxa, Trapalhões, He-Man, Caverna do Dragão, Pica-Pau e Mara Maravilha terminaram e o jeito é enfrentar as responsabilidades e compromissos que nos cabem com a mesma alegria de um convite para Amarelinha ou coisa do tipo.
Carrego valores que nenhum computador ou MP15 pode ensinar. Aprendemos com pessoas, através das brincadeiras de rua, da cumplicidade que construímos com amigos para esconder as travessuras dos "adultos". Da minha infância restaram muitas lembranças boas e amigas quase-irmãs que me acompanham sempre, é o que guardamos de melhor na vida. Deixamos as bonecas e as panelinhas de lado, choramos juntas por um amor perdido, dividimos a culpa em devorar brigadeiros, nos emocionamos ao ver a amiga casar ou esperar um bebê. Sempre resta um pouquinho da criança que fomos um dia.

Bruna Martini Madril
bru_martini912@hotmail.com
http://brumadril.blogspot.com
Uruguaiana, RS



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