A guerra do abededá-Rio

Quando vimos, no jornal, a ocupação dos morros por forças policiais, aplaudidas pela população, os traficantes em fuga, como toupeiras assustadas, só podíamos ficar felizes. Quem lembra da ECO-92, quando o exército ocupou as ruas, para que líderes mundiais pudessem discutir questões ambientais - nem sempre encaminhadas a contento -, percebe uma diferença quantitativa e qualitativa, de ambos os lados.

Nesses quase 20 anos, muita coisa mudou: o tráfico assumiu uma força nunca dantes vista, o consumo perde cada vez mais o seu glamour (vide campanhas contra o crack e a favor da descriminalização de drogas leves), e as forças políciais, articuladamente, parecem ter vindo para ficar, não apenas com seus tanques em cada esquina, mirando um inimigo imaginário.

Hoje, depois da implementação, com relativo sucesso, das Unidades Pacificadoras cariocas, que, em sua tímida abrangência, já reconfiguraram alguns morros da cidade, pela inclusão social, muitos desafios ainda persistem, a começar pela educação.

Num país em que, nunca antes, conforme as páginas dos jornais, as condições econômicas se mostraram tão propícias para um alavancamento social, através da redistribuição da renda, com dignidade,cabe à nação a resolução do enigma da esfinge da educação.

Nesse cenário, se quisermos ser uma das maiores potências econômicas nos próximos 20 anos, a educação terá de ter um papel proeminente. Sem ela, as novas gerações ficarão sempre à mercê, ora dos traficantes, ora dos governantes. Sem essa base lapidar, nenhum país se constrói.

Dessa forma, urge a revolução da educação. Assim, construindo a cidadania para todos, poderemos nos orgulhar de um país em que a corrupção encontrará cada vez menos espaço, no cotidiano e nas relações institucionais, vigiada de perto por seres educados e cidadãos.

O que vemos, hoje, nesses mesmos jornais, é um sintoma de que muito ainda temos a desbravar: os desastres do ENEM, a cruzada pelo piso nacional dos professores, a degradação geral do ensino – sintoma da época, mas não só isso.

Dificil mesmo, nesse contexto, é ver os professores botando a cara na sala, literalmente, para bater. Sei que ainda alguns julgam o magistério uma missão, mas daí a ser uma martírio, vai uma grande diferença. Então, o exercício da autoridade não pode ser confundido com autoritarismo, e o professor, acuado em sala de aula, precisa recuperar seu prestígio, mas não da boca pra fora. Precisa de um compromisso social, que será retribuído no futuro. Ou não se pensa mais em futuro? E pensar o futuro significa refletir sobre o presente e o passado. Cada vez mais, mais que
uma guerra do Rio, precisamos de uma guerra do abecedá-Rio.

Neste 15 de outubro de 2011, aos mestre, com carinho.

Breno Serafini
http://www.brenoserafini.com.br
Porto Alegre/RS



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