Tarde demais

Senti lágrimas nascerem em meus olhos e uma faca trespassar-me o coração desde o primeiro momento em que comecei a escolher palavras para te dizer adeus. E que ironia! as primeiras linhas do fim foram escritas à pressa na metade de uma folha onde já havia tanto amor e tanta esperança!... Separei-as por um traço assim como uma noite separou o paraíso do inferno.
Quando acordei, esqueci-me de tudo para lembrar-me apenas de ti. Mas você não estava aqui - nem ao meu lado e nem dentro de mim. E o quão cruel não foi perceber que o pesadelo na verdade era a minha vida, e que a minha vida de fato não passou de um sonho!

Eles conseguiram me quebrar, mas não quebraram o meu amor; acho que já pode juntar os meus pedaços e guardá-los contigo, se ainda os quiser. As paredes são tão brancas e eu... eu não me lembro de nada além de você. Minha única certeza é a de que, cedo ou tarde, morrerei por ti.
Será que, algum dia, poderemos voltar a este momento? Porque a minha vida para aqui, e tudo o que vier depois será como o nada que eu respiro a fim de alimentar o nada que me tornei.
Queria ter para escrever ainda um poema, mas o sono fecha-me os olhos. E as tuas lágrimas!... que não me destruíram de imediato, mas que me corroeram como um veneno lento que paralisou-me o coração - pois no silêncio daqueles segundos calou-se em mim toda a vida por não poder deitar-te no meu colo e deixá-las cair sobre o meu peito. E o teu rosto... que nunca toquei com as mãos trêmulas, que nunca beijei, será a minha última visão.
A partir daqui, minha vida segue sem rumo para a morte que viverei todos os dias. Meu coração, fique com ele, que ele é mesmo teu; e a cruz da vida que desatei ao meu peito por ti, mas que nunca chegou às tuas mãos, eu nunca mais usarei. Meu corpo... embora dia após dia a beleza se transforme em ruína, gostaria de poder conservá-lo para ti com o fogo de todos os desejos de agora e também com toda a inconsequência dos meus dezessete anos; e todos os beijos que vierem depois serão aqueles dos lábios infantis de um anjo, assim como o abraço incestuoso de dois irmãos.
E talvez eu possa te ligar de vez em quando... Eu posso? Diga que sim, por favor. Só para dizer que te amo ainda. Apenas me ouça... Não, por favor, não diga nada; mas, se puder me amar também, deixe-me saber de vez em quando... Podem ser apenas duas palavras, se você quiser.

Ouço a madeira dos móveis estalar e a cada novo estalo não consigo evitar um sobressalto; vejo os filamentos da lâmpada fragilmente presa ao teto vacilarem. Sinto fome e meu estômago parece tentado a protestar, mas na verdade não consigo comer; olho para os meus pulsos, e a cada minuto minha pele fina parece zombar de mim, deixando transparecer as minhas veias tão cheias de sangue...
Se posso contar nos dedos de uma única mão as vezes em que você já me decepcionou, acho que agora posso erguer mais um - e, quem sabe, a outra mão. Por outro lado, preciso ainda de muitas casas de números para me lembrar de cada pensamento que já votei a ti.
Se vim-te dizer adeus, acho que não devo fazer perguntas. Mas será que posso ao menos dizer que agora mesmo uma lágrima corta-me muito lentamente o rosto? Não, não. Melhor deixar para chorar depois que você tiver partido.
Tenho tanto o que fazer!... restam-me ainda muitos círculos, que às vezes chegam até a letra L. Mas prometo escrever todos os dias - e, se não o fizer, peço que me perdoe. Mas é que talvez eu esteja muito cansada. Tantos remédios para dores que eu nem sei se ainda sinto me deixam um pouco confusa.

Será que algum dia ainda poderei te ver? Tudo bem, eu entendo que talvez você não queira me ver assim... mas é tarde, é um pouco tarde para me dizer a verdade agora se tudo antes não tiver sido mais que uma mentira. Porque é tarde também para te esquecer; é tarde para deixar de te amar e para te ferir sem com isso ferir a mim mesma.

Luciana Nogueira
http://anjoshistericos.blogspot.com
hysteric.angel@hotmail.com
Santos, SP



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